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Vivemos em tempos espaciais?

Como pensar o espaço coexistente ao tempo através da maquinaria orbitante e construir mundos outros capazes de produzir uma simultaneidade dinâmica, constantemente desconectada por novas chegadas e de resultados imprevisíveis pelas histórias em curso?

Se a leitura do mundo acontece a partir das relações, de suas estruturas e dos processos constitutivos do que acreditamos ser ESPAÇO, um outro modo de criar e de pensar espacialmente se abre através de um sobrevoo instrumentalizado pelas ferramentas de visualização. Existe escapatória da interdição realizada pela angulação e pela reflectância exaustivamente calculada e vistoriada desses instrumentos? Como experimentar nosso modo de imaginar e visualizar o planeta Terra? Como dançar com as categorias de entendimento do espaço geográfico e variar as facetas e os usos das palavras e das imagens? se a Geografia (ciência de Estado) intenta discutir o espaço a partir de uma perspectiva cartesiana, ela também o faz na intenção de inscrever espaço dentro da lógica da bidimensionalidade representacional, distante da força do acontecimento e da contradição. Longe de generalizações, mas essa “imagem” permeia certo imaginário sobre ciência e, principalmente, sobre espaço, que às vezes não permite reconhecimento de banalidades, do fugaz, do intempestivo, das rachaduras que as imagens disfarçam  ou escancaram. No cotidiano, é possível experimentar velocidades de voo com o Google Earth. Em um dia de tédio, recusa ou humores reativos, talvez este seja um jeito de atuar no intensivo das capturas, uma metodologia sinistra de investigação molecular e virtual. Cada clique no acaso é um traçado firme no mapa de decolagem. Cada linha, cada ponto, um campo, uma teia. Qualquer fixidez discursiva carregada pela presença das coordenadas geográficas se retorce em brechas, linhas de fuga de uma orientação diegéticamente fraturada. No mapa, um outro território emerge, algo que estava desde sempre ali. Juntando a música, cada instrumento, cada acorde e cada silêncio, é possível ouvir o mundo se inundando ali.

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