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O BLACK É A COROA E O PENTE A LIBERTAÇÃO

O BLACK É A COROA E O PENTE A LIBERTAÇÃO
 
Sou da geração dos iluminados, dos incompreendidos e que nasceram para liberdade, mas que demoram para aceitar as próprias raízes. E hoje digo a mim mesmo, fui e sou resistência, pois a dor que carreguei ontem já nem vejo mais, o que eu vivi eu sei e hoje em dia grito a minha libertação. 
Desde pequeno fui repreendido, criticado e humilhado, grande parte da minha vida me escondi através de uma blusa de frio, onde se tampava por um capuz meus cabelos crespos e meus traços grossos não eram tão visíveis. Os traços dos meus ancestrais eram vistos para chacota e algo feio, e logo eu que carrego esses traços aceitei e me escondi, assim desprezei todas minhas raízes e tentei ao máximo me embranquecer. 
Com o passar do tempo fui crescendo e aprendendo mais sobre de quem sou e de onde vim, muitos passaram e se foram, porém o aprendizado ficou, outros chegaram e permaneceram, e os que estão por perto abriram meus olhos e disseram – Se liberte. E foi assim que aos poucos a liberdade começou a cantar nos meus ouvidos, à aceitação dos meus traços grossos chegaram, não fazia mais questão de esconde-los, mas fiz questão de ainda passar chapinha quente no meu cabelo. Aos 19 anos meu amigo trancista me disse, “– Seu cabelo é lindo alisado, mas seu cabelo natural é maravilhoso.” E foi assim que comecei minha transição capilar, fui no salão do amigo e coloquei tranças até a cintura, e foi nesse mesmo lugar que me olhei para o espelho e consegui começar a me vê e me reconhecer mais profundamente. Em uma certa noite surtei, tirei todas as tranças e naquela madrugada foram várias lagrimas caindo dos meus olhos, lembranças de todas humilhações, rejeições e apelidos maldosos que me foram direcionados a mim passaram na minha cabeça naquele momento. Logo pela manhã precisei ir trabalhar, e eu nunca tinha mostrado a textura do meu cabelo para mundo e nem para mim mesmo, ergui minha cabeça e fui! Nunca me senti tão empoderado como naquele dia, logo pensei, escondi essa belezura durante 19 anos por conta de uma sociedade racista. 
A liberdade veio por inteiro, meus ancestrais me aplaudiam, pois me viram resistir e bater de frente. Eu vivi, eu cai, eu me aceitei, no entanto, me transformei. Ganhei meu primeiro pente garfo, pois é, minha autoestima pra cima, meus cabelos pra cima. Foi tudo questão de tempo e aprendizado, hoje em dia tenho orgulho dos meus traços, faço questão de deixar meu crespo o mais armado possível, não quero mais disfarçar minhas raízes, não quero mais despreza-las, pois hoje percebo que carrego um poder e uma coroa que representa toda minha luta que não foi fácil e o eco do meu rugido vai ser ouvido por muitos.  
Só irei falar uma vez: A conquista está ganha! Nos cantamos em união, em uma luta e um coração. Ubuntum, é lei para se liberta. Orgulhoso dos meus traços, pois foi assim que descobri que somos rainhas e reis.   

“Quente que nem a chapinha no crespo 
Não, crespos estão se armando 
Faço questão de botar no meu texto 
Que pretas e pretos estão se amando” 
                     - Rincon Sapiência, Ponta de Lança.  
 
 
Por Gabriel Candeias 
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